VIDÊNCIA
Ele tinha um corpo atlético, era alto, forte de pele morena
acetinada. Em seu rosto quadrado de linhas suaves, acentuavam-se as sobrancelhas
grossas e bem feitas, a barba e cabelos grisalhos, os olhos pretos com cílios
longos e uma boca sensual com dentes perfeitos que iluminavam o sincero e
cativante sorriso. Ele era bonito, carismático, como também, tinha consciência
de que sempre seria um preguiçoso.
Gervásio Manoel Miranda nasceu numa cidadezinha do interior, no
seio de uma família humilde. Até os oito anos foi uma criança normal como
qualquer outra. Aos nove anos teve uma visão: profetizou o falecimento do pai,
um alcoólatra inveterado, fato que ocorreu realmente logo depois por cirrose
hepática.
A madrinha de Gervásio, que assumiu sua guarda, vez que a mãe,
mulher de renomados dotes o abandonara ainda bebê, prognosticou e espalhou pela
cidade as qualidades mediúnicas da criança.
A fama de Gervásio como vidente cresceu e embora tentasse, não se
fixava nos empregos que sua madrinha arranjava, pois as pessoas vinham de muito
longe para se consultar com ele que sempre atencioso e solícito corria para
atendê-los de pronto.
Aos dezessete anos, após o falecimento da madrinha, resolveu ir
embora. Viajou por várias cidades do Norte ao Centro-Oeste do País, desenvolveu
seu dom profissionalmente. Tornou-se esotérico e adotou o nome de Mestre G.
Não era umbandista, nem espírita, nem evangélico, católico ou
budista, era simplesmente holístico. Essa foi, durante muitos anos, a filosofia
de vida perfeita para Mestre G.
Por volta das cinco horas da tarde, ele chegou na metrópole, bem
no início da hora do 'rush'. O tráfego alucinante, o lusco-fusco, as pessoas na
calçada, os edifícios imensos o impressionaram.